Pra começar
a falar do meu segundo Iftar eu preciso falar do meu primeiro.
Eu mal
cheguei na Arábia e entramos no mês do Ramadam, o mês mais sagrado para os
muçulmanos. Uma das curiosidades sobre o Ramadam é que eles ficam em jejum
desde o nascer do sol até o por do sol, quando chega o fim do dia, geralmente
umas 6:30 da tarde, começa a hora da oração em todas as mesquitas (e não existe
ponto na cidade em que não se escute as orações das mesquitas) e após isso é
feita a primeira refeição do dia, o Iftar. Geralmente se inicia essa refeição
com 3 tâmaras, pra imitar o que o profeta fez.
Eis que
naquela tarde de sexta feira, o nosso domingo aqui, nós resolvemos passear na praia
que tem aqui pertinho. Chegamos lá, tiramos algumas fotos e notamos muitas
famílias reunidas em picnics, somente esperando o horário certo pra começar a
comer. Nós não ficamos nem 5 minutos tirando fotos e observando quando um árabe
nos chamou e nos convidou pra comer com eles.
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Eu no meio da comilança. |
Achando a
hospitalidade o máximo a gente foi. Tinha mais um rapaz e um casal, ela toda
coberta, só com os olhos de fora, como de costume. Primeira lição do dia: homem
não deve tocar em mulher que não é da família, então eu sempre com meus
oizinhos à distância. Segunda lição: homem e mulher não sentam juntos... Ai que
saco, lá vou eu pro outro lado do tapete. Fora isso, cheirinho bom, muita
comida e vários tipos de tâmaras. Conversamos bastante, trocamos curiosidades,
eles explicaram como funcionava o iftar, foi bem interessante. Começou a oração
e começamos a comer... Mwahahaha.
Começando
pelas tâmaras, eu já tinha provado tâmaras no Brasil e odiado, mas como sou
adepta a novas aventuras gastronômicas resolvi provar outra vez. E não é que a
tâmara daqui é uma delícia! Tinha uma mais sequinha e uma com calda. Pega a
tâmara e mergulha numa espécie de creme de leite com iogurte... demais! E eles
não paravam de oferecer e quem sou eu pra recusar, vai que fica feio pra
gente! Provei de tudo, tinha uma espécie de pastelzinho, umas bolinhas que
lembravam bolinho de chuva – na versão sequinha e na versão com calda de
tâmara. Tinha doce, salgado, comida pra caramba. E o tradicional café árabe...
Eu tinha
provado café árabe em uma loja naquela semana, achei estanho, mas desta vez,
como estava ali que não estava recusando nada, resolvi provar de novo, dar uma
segunda chance... Bebi e... é... de 1 a 10 é nota 6... Esse tinha um pouco de
leite, então ficou mais gostosinho.
Num
determinado momento os homens levantaram, foram rezar e deixaram tudo lá com a
gente: comidas, bolsas, celulares, e explicaram que com essa atitude eles
estavam dando o voto de confiança deles na gente... Como bons brasileiros
achamos estranho... quando é que no Brasil, em um lugar publico você deixaria
suas coisas com estranhos que acabou de conhecer? Até se você for muito bom
coração e acreditar que todos merecem um voto de confiança até que se prove o
contrário... ainda assim, em um lugar público, pode passar um trombadinha,
recolher os celulares, comer a comida, beber o suco, tirar um cochilo e ir
embora. Bom, aqui na Arábia não tem disso. Falem que são todos loucos, mas pelo
menos aqui da pra viver sem medo de roubos e assaltos... de bombas, talvez
(rsrs), mas a criminalidade aqui é bem baixa. A mulher só se afastou um pouco e
rezou sozinha (homens e mulheres não rezam juntos).
Na volta
esse árabe nos explicou algo muito interessante: qual país, organização ou religião
no mundo pode, com apenas um comando, colocar todos os homens em linha reta,
organizados...? O Islã! Seja quem for, desde pequeno eles sabem o que devem
fazer quando é hora da oração. Em casa eu e o marido ficamos analisando aquela
situação. É uma disciplina militar. Com um sinal eles se organizam... Supondo
que houvesse uma guerra, com um sinal eles fariam uma barreira pra defender o
que fosse preciso. Achei interessante, achei curioso, achei complexo. Porque
nos dias de hoje disciplinar um grupo, um país, não deve ser nada fácil e aqui
é um país que pra muitos “parou no tempo” mas que mantém tradições antigas
muito vivas. E digo mais, um dia eu estava ajeitando meu hijab (lenço) na saída
da academia, toda atrapalhada, e adivinha quem me chamou a atenção porque um
pedaço do meu cabelo estava aparecendo? Não foi um homem, não foi uma senhora,
foi uma moça! Mais nova do que eu ainda a recalcada. Hahahaha.
Em outro
post comento mais sobre o Ramadam e as milhares e infinitas orações que eles
fazem ao longo do dia.
Finalizando
sobre o picnic, trocamos contatos, a mulher não falava muito inglês então
fiquei mais ouvindo a conversa dos outros que falando, eles nos
deram uma sacola cheia de quitutes que sobraram. Saímos redondos, mas bem
felizes pela acolhida simpática daquela família. E ficou um convite aberto para
um iftar no outro dia, na casa de outro árabe.
Tiramos
algumas fotos e mais tarde eu conto sobre o meu segundo iftar propriamente
dito.
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